10/02/2017

Uma em cada cinco pessoas terá depressão

 

 

Tida como o “mal do século”, o quadro depressivo gera muitas dúvidas e preocupações aos familiares que convivem com o paciente. Pensando nisso, a Drogalar ouviu o médico psiquiatra, Renato Stroppa de Agostinho, de Marília (SP).

De acordo com o médico, em geral, em algum momento de suas vidas, aproximadamente uma em cada cinco pessoas experimentará pelo menos um episódio depressivo.  “É um quadro clínico que vai muito além da tristeza como é pensado muitas vezes, pois há uma limitação e às vezes uma incapacitação na realização das atividades que o indivíduo sempre realizou e por isso atualmente está entre as principais causas de afastamento do trabalho”.

Porém, pelo fato do diagnóstico ser clínico, dependente de uma avaliação médica através de uma entrevista psiquiátrica com o exame do estado mental. “E neste ponto ainda há uma relutância das pessoas em aceitar que ela realmente existe, pois não há exames de sangue ou de imagem que confirmem o diagnóstico” ressalta.

Para o psiquiatra a expressão “mal do século”, dá uma sensação de profecia negativa, como se uma peste negra fosse assolar as pessoas.  “Assim prefiro tratar a depressão como um problema de saúde pública, algo que precisa ser visto pelas pessoas como uma doença que tem tratamento, e que buscar uma ajuda não significa fracasso”.

O quadro clínico da depressão é muito variável, os sintomas frequentemente presentes são o humor deprimido (sentimento de tristeza, vazio) e a anedonia (acentuada diminuição do prazer nas atividades) na maior parte do dia, por pelo menos algumas semanas seguidas. Em crianças pode haver irritabilidade e em idosos não é incomum a apatia. Muitas vezes o adulto, por exemplo, não quer mais realizar atividades de lazer que gostava antes, a criança não quer mais ir para escola onde tem vários amigos e o idoso não consegue ver mais sentido nas suas ocupações. Em adultos é frequente uma falta de reatividade do humor a eventos positivos, mas em crianças isso pode não ocorrer, sendo frequente a criança ficar feliz diante de eventos positivos mesmo estando deprimida. Um sentimento comum é o de culpa sobre coisas que a pessoa julga ter feito de errado, uma sensação de inutilidade com uma autoestima muito baixa. Frequentemente ocorrem anormalidades das funções neurovegetativas com diminuição ou aumento de apetite e sonolência excessiva ou insônia. Não é incomum também a pessoa deprimida apresentar lentificação psicomotora, com desânimo e falta de energia, sendo mais rara a presença de agitação psicomotora.

Podem estar presentes em casos mais graves ideias de suicídio que acompanham a desesperança e ainda sintomas psicóticos, como por exemplo, o indivíduo ouvir vozes ordenando para ele se suicidar. Em crianças e idosos os sintomas somáticos são mais comuns, queixando-se frequentemente de dores de cabeça, dores na barriga e no corpo. As crianças também podem também ficar mais agressivas acompanhando o humor irritado.

A depressão, assim como praticamente todos os transtornos psiquiátricos tem um caráter dimensional, com apresentações clínicas leves que causam sofrimento e limitação no dia a dia do indivíduo até quadros depressivos graves que cursam geralmente com incapacitação para várias atividades como o trabalho em adultos ou o estudo em crianças e adolescentes, além de ideias e/ou tentativas de suicídio com ou sem sintomas psicóticos.

Apesar de curado, o paciente pode voltar ao quadro depressivo, a chamada Depressão Recorrente é aquela em que há a presença de dois ou mais Episódios Depressivos Maiores. Para serem considerados episódios distintos, deve haver um intervalo de pelo menos dois meses consecutivos de remissão dos sintomas. Quando se tem um segundo episódio depressivo, a chance para ocorrer um terceiro episódio depressivo aumenta ainda mais, havendo nesses casos a necessidade de o tratamento ser feito por muitos anos, mesmo após a remissão dos sintomas para que se diminua a chance de um novo episódio depressivo.

Os tratamentos mais utilizados atualmente incluem a psicoterapia, o uso de medicamentos (como por exemplo, os antidepressivos) e em alguns casos o uso da Eletroconvulterapia e Estimulação Magnética Transcraniana.

Não há evidências de que a farmacoterapia deva necessariamente ser utilizada para pacientes com depressões leves. Quadros leves podem ser tratados por alguma abordagem psicoterapêutica (preferencialmente Terapia Cognitivo-Comportamental ou Terapia Interpessoal) ou terapias de apoio. Caso não haja resposta a esse manejo inicial, se o quadro for crônico (durar mais de dois anos), ou se houver história de episódio depressivo grave, inicia-se o tratamento medicamentoso.

Nos quadros de depressão moderada, o uso de antidepressivo é a primeira linha de tratamento. Psicoterapias também são indicadas em associação ao medicamento, preferencialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental e a Terapia Interpessoal, por apresentarem maior respaldo científico de evidência clínica de eficácia. Abordagens psicodinâmicas, ainda que careçam de estudos mais consistentes, são opções terapêuticas comumente utilizadas.

“A escolha entre o tratamento farmacológico e a psicoterapia depende do perfil de cada paciente, das preferências pessoais, da história passada e da presença de fatores ambientais significativos. É muito importante salientar que o tratamento combinado de psicoterapia e farmacoterapia apresenta melhor eficácia do que ambas as técnicas isoladas”, orienta o médico psiquiatra.

Antes de iniciar qualquer tratamento, especialmente em quadros graves, é necessário avaliar a presença de risco de suicídio ou outros riscos que indiquem a necessidade de internação. Nas depressões graves, em casos selecionados (alto risco de suicídio, presença de sintomas psicóticos, contraindicação ao uso de medicamentos, p. ex., gestação), a Eletroconvulsoterapia pode ser o tratamento inicial. Em casos refratários ao tratamento convencional, o uso da Eletroconvulsoterapia ou da Estimulação Magnética Transcraniana podem ser tentadas.

A prevenção de um quadro depressivo está muito relacionada a conseguir ter o máximo possível de hábitos saudáveis, incluindo o trabalho que você faz (quantidade e prazer envolvido), a realização de atividade física regularmente, ter uma alimentação balanceada, evitar o consumo de álcool, dormir no período noturno na quantidade apropriada que varia de seis a dez horas, dependendo do indivíduo e ter uma boa qualidade de socialização com amigos e família.

PESQUISA

Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, até 2020, a depressão será a maior causa de afastamento do trabalho, no mundo. Atualmente é a segunda causa de afastamento do trabalho no Brasil, só perdendo para as Lesões por Esforço Repetitivo (LER), também denominados Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).

Recentemente uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) revela que 48,8% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 dias do trabalho sofrem com algum transtorno mental, sendo a depressão o principal deles.

SERVIÇO

Renato Stroppa de Agostinho é formado em Psiquiatria Geral pela Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA); em Psiquiatria da Infância e Adolescência pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) e titulação de Especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

O médico é preceptor do Ambulatório de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da Residência Médica de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA)

Ele atende Psiquiatria Geral – Psiquiatria da Infância e da Adolescência, na Clínica Guanás: Rua Guanás, 87 – Salgado Filho – Marilía-SP. O telefone é (14) 3433-3088.